quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Guerras de sexos

Nisto das diferenças entre os sexos, há certos factos que ninguém pode negar. Por exemplo, é certo e sabido que eles são uns mariquinhas do piorio quando estão doentes. Qualquer constipação os deixa de cama durante oito dias, como se estivessem à beira da morte.
Estou farta do frio também por isto, já se me começa a esgotar a paciência para gente que tosse e espirra e geme para cima de mim. Oito horas por dia, assim manda o contrato laboral. Para me abstrair, recito mentalmente e em repeat este texto do António Lobo Antunes, que em tempos a Sónia do Cocó na Fralda partilhou, e que é só genial.

"Pachos na testa, terço na mão
Uma botija, chá de limão
Zaragatoas, vinho com mel
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes, que vou morrer
Mede-me a febre, olha-me a goela
Cala os miúdos, fecha a janela
Não quero canja, nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada
Se tu sonhasses, como me sinto
Já vejo a morte, nunca te minto
Já vejo o inferno, chamas diabos
Anjos estranhos, cornos e rabos
Vejo os demónios, nas suas danças
Tigres sem listras, bodes de tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes, que foi aquilo!
Não é a chuva, no meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes, fica comigo
Não é o vento, a cirandar
Nem são as vozes, que vêm do mar
Não é o pingo de uma torneira
Põe-me a santinha, à cabeceira
Compõe-me a colcha, fala ao prior
Pousa o Jesus, no cobertor
Chama o doutor, passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes, nem dás por nada
Faz-me tisanas, e pão-de-ló
Não te levantes, que fico só
Aqui sozinho a apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer."

Sem comentários:

Enviar um comentário