"Toda a gente quer ser cá dos nossos, mas muitos acabam invariavelmente por ser dos outros. Ser dos nossos não é para todos e ser dos outros é para uma larga maioria. Aliás, melhor do que ser dos nossos é ser "cá dos nossos". Ser "cá dos nossos" é uma categoria porque é mais estreito, como se vivesse ali na rua, na casa ao lado entendem? Esperem lá, ser dos nossos é muito bom, é um jogo vitorioso, mas cá dos nossos é uma goleada à moda antiga.
Daí que, de uma forma ou de outra, lutemos todos por esta integração, fazendo tudo para estar sempre com os nossos e merecendo que assim nos considerem. De resto, qualquer conversa sobre alguém se inicia tendo por base essa premissa "tu conheces o António?". E é certinho que a resposta desde logo nos diz se é ou não é. A nossa gente é isto também. E perceber que estamos perante alguém que é da nossa gente, é como se estivéssemos abrigados numa daquelas casas feudais, com a lareira a arder e a chuva torrencial lá fora. Por isso, quando percebo que estou perante alguém que é da nossa gente, sinto um alívio parecido ao do príncipe Carlos quando os testes de ADN comprovaram a paternidade do seu filho Harry (embora ninguém acredite).
Quando estamos com alguém que é da nossa gente num instante o sabemos. Sente-se na alma, na forma como fala, no que nos diz e acerta no peito. E isso é o suficiente para lhe emprestarmos sem demora a chave do carro, a nossa casa, a nossa cama, enfim, a nossa alma."
Fernando Alvim
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